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Introdução: FUMAÇA E ESPELHOS

20 mar

Escrever é voar em sonhos.

Quando você se lembra. Quando pode. Quando dá certo.

É muito fácil.”


“É truque com espelhos. Trata-se de um clichê, não há dúvida, mas não deixa de ser uma verdade. Os mágicos empregam espelhos (…) desde que os ingleses vitorianos começaram a produzir superfícies nítidas e confiáveis em quantidade, há mais de cem anos. Johnn Nevil Maskelyne deu início à técnica, em 1862, com um guarda-roupas que, graças a um espelho posicionado com astúcia, ocultava mais do que revelava.

Espelhos são coisas maravilhosas. Parecem dizer a verdade, refletir toda nossa vida; mas posicione um deles da maneira correta e sua superfície mentirá de modo tão convincente que você acreditará que algo desapareceu no ar, que uma caixa de pombos, baneirolas e aranhas está realmente vazia; que pessoas escondidas nos bastidores, ou no fosso, são fantasmas no fundo do palco. Deixado no ângulo correto, um espelho torna-se uma janela mágica; capaz de lhe mostrar qualquer coisa que possa imaginar e talvez, algumas que não possa.

(A fumaça borra o contorno das coisas.)

Histórias são, de um modo ou de outro, espelhos. Nós a usamos para explicar como funciona ou não o mundo. Tal qual espelhos, elas nos preparam para os dias que virão. Afastam nossa atenção das coisa que se ocultam nas trevas. (…) Um espelho distorcido, não há dúvida (…), mas ainda assim um espelho que podemos empregar pra nos revelar coisas que, de outra forma, poderíamos não ver. 

(Contos de fadas, como G. K. Chesterton disse certa feita, são mais do que a verdade; não porque nos contam que dragões existem, mas porque nos dizem que dragões podem ser vencidos.)”


 NEIL GAIMAN, “Fumaça e Espelhos”